


..........................................PAI PIRICA DE XANGÔ.............................................

PAI PIRICA DE XANGÔ
Relatos Do Batuqueiro e entrevista ao Publicitario Wáshington Pérez (Uruguaio)
Por volta do ano de 1938 no Porto, dia feliz de chuva e trovoada, nasceu um casamento de gêmeos, na casa da avó Aurora de Ogu Bomate, sendo mais preciso na linhagem de Mae Soberana de Yemoja descendentes de preto mina (hehe vodum).
Assim que nascem, são confirmados dois irmãos gêmeos, um se chamava Astrogildo e o outro Astronogildo, que era o encarregado do jogo de ifá (oráculo do búzio) na época confirma que são ibeijis (abiku), criança que nasce para morrer , sendo este o alerta do oráculo já utilizado naqueles anos em porto alegre, as hierarquias da casa se reúnem e após questionar o oráculo chega-se a um acordo para fazer ebó (oferenda) a Xangô e Oxum é para que com três meses de vida este o casamento de gêmeos foi iniciado pela saúde no culto africano preparando em gamela, um casal de vultos e realizando a cerimônia correspondente.
Meu pai dizia que era uma época muito difícil de praticar o culto aos orixás, devido à perseguição militar e aos resquícios de uma abolição muito vulnerável.
Aos 12 anos eu era próximo daqueles baluartes do nosso batuque, ele mesmo me dizia só próximo, mas quando eles se encontravam eram encontros da língua Ewe entre si, deixando de fora toda aquela gente que não tinha o que fazer com o culto ou eram de outras nações, uma infinidade de lendas que tive o privilégio de ouvir e muitos outros ensinamentos que ele pôde compartilhar com a prática.
Era só para ver a força de espírito, quando chegavam os tempos dos rituais anuais, como as missas anuais, ou o serão e grande festa do nosso Pai Xangô, era ele o primeiro a levantar-se de manhã, acrescentando as tarefas do almoço isso só ele entendeu Até a hora do seron e ainda mais ir descansar de madrugada, só quem viu pode acreditar e não mais será visto.
Nos ensinando a rezar para orixá, a cantar para Egun, com a inha (tambor de aganju) nas pernas marcando as pancadas ou na confecção dos pratos para diversos tipos de ebós, sinceramente ele deixou muito conosco mas sabemos que em seu livrinho eu tenho muito mais, e é disso que se trata a vida de um batuqueiro, nós somos as experiências que vivemos e aprendemos com elas, sei que você viveu como um REI porque ninguém me disse que eu vi e rimos juntos na vida, encontrando nela a cumplicidade dos nossos santos para viver plenamente como DEUS manda e eu te disse pai, se DEUS QUISER E VOCÊ RESPONDE, DEUS SEMPRE QUER UM FILHO.
É assim que depois de acompanhar sua avó de nascimento, avó AURORA DE OGUN BOMATE, da casa de Mae Soberana, encontra direção para os cruzeiros de outro grande ser do nosso batuque como foi o Pai João Correia lima de Bara EXU BI, responsável pela chegada dos cultos africanos ao Uruguai e Argentina da Nação JEJE NAGÔ.
Uma vez que o Pai Pirica chegou na casa do Pai João, ele disse que não era um homem fácil, que na casa dele tinha muita gente e entre eles, Pai pequeno de Bara Lodê, Mãe Reni de Iansâ, Evinha de Agandju, Mãe Tia Nica de Bará , Mãe Zumira de Oxum Panda que tive o prazer de conhecer, entre eles pai Tião de Bará Lodê e muitos mais, sempre resgatando que almoço era de todos, arroz e feijão nunca faltava, mas fumo e café, tudo procurava-se, uns que chegavam por estas terras e outros só por encontrar, enfim, na hora de conversar sobre o agora com o Pai Pirica era inevitável não lembrar de situações e/ou personagens que fizeram parte da sua vida, literalmente a vida de um batuqueiro.
E um como este batuque realmente sente pelo que é, um culto africano na América deixado pela herança do negro africano, em grande parte pela transmissão oral e prática que perdurou ao longo dos séculos, a distância, as apalpadelas e blasfêmias, posso garantir você que o tambor continua a rugir em toda a América.
Quando falo do meu pai de santo, falo muito mesmo, que ele nos deixou como ensinamento religioso nos fundamentos e sobre a vida, também hoje, sendo responsável espiritualmente pelos meus filhos e consultor de todo tipo de dúvidas no dia a dia, a nobreza obriga, a referir-se a esse mestre e a pôr em prática dia a dia os seus ensinamentos.
Tenho convicção que o que ele quis para os seus, também se quer para os nossos e é aquela recompensa que se ganha com ações e com o tempo, que é ser amigo do nosso pai de santo, ele sempre tinha uma palavra, uma mensagem, e até uma gargalhada nos momentos mais remotos, digno filho do nosso grande REI DE OYO XANGÔ.
Texto de Pai Angel de Xangô (do Jornal Do Batuqueiro)
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ENTREVISTA AO PUBLICITÁRIO WASHINGTON PÉREZ (Uruguaio)
P: Como você se envolveu com a religião pela primeira vez?
R: Nasci em Porto Alegre, na casa da deusa soberana Iemanjá. Ela era uma mulher negra africana, e minha avó, que me criou, também era africana. Nasci e fui criada dentro da religião africana.
P: A religião era praticada na casa em que você morava?
R: Sim, minha avó praticava.
P: Como começaram esses primeiros passos na religião? Porque às vezes você pode estar em uma casa e não gostar muito de religião.
R: Eu tinha 21 anos quando minha avó estava morrendo, e ela me disse: "Antes de morrer, quero deixar tudo para você". Ela faleceu aos 90 anos. Fui praticamente obrigada a aceitar; eu não queria um compromisso, mas abracei tudo na época, assim como hoje.
P: Naqueles anos, a religião, especialmente a Umbanda, era relegada a segundo plano; não havia tanta liberdade como hoje?
R: Naquela época, essas coisas não existiam. Levava muitos anos para preparar uma pessoa para a iniciação. Hoje, tudo é mais fácil; eles são iniciados e podem trabalhar. No passado, não demorava muito para adquirir conhecimento. Nós, os anciãos, não dávamos nada de graça. Meu pai era um deles; ele teve milhares de filhos. Ele faleceu, mas não preparou todos eles. Aqui em Montevidéu, quem começou o Batuque foi o padre Joan de Bará, e se muitas pessoas trabalham e ganham dinheiro hoje, devem agradecê-lo.
P: Pelo que você mencionou sobre a iniciação, quando as pessoas se aproximavam do local religioso, ele era chamado antigamente de Terreiro?
R: Sim.
P: Quando essas pessoas se aproximavam deste lugar, alguém via que elas tinham potencial para crescer dentro da religião.
R: No passado, os anciãos eram muito rigorosos; Eles não entregaram tudo, guardaram tudo para si. Havia poucos anciãos que diziam: "Vou prepará-los para o trabalho. Tenho a bênção de que meu Pai me deixou tudo antes de falecer."
P: Estamos lidando com uma situação em que muitas pessoas conhecem a religião, mas muitas outras não. Então, quando alguém vem e se aproxima da casa religiosa, como descobre qual Orixá possui ou qual caminho seguir na religião? Quem determina isso?
R: Vejo muitas coisas boas aqui e algumas ruins. Há pessoas que querem trabalhar, mas não sabem nada. Acham que sabem, mas não sabem, porque têm a teoria, mas não a prática, e a prática é muito importante, e muito poucos aqui a têm.
P: Eu estava perguntando se uma pessoa nova chega ao centro religioso e quer começar a praticar a religião, como determinamos se ela é adequada?
R: É feita uma adivinhação com búzios. Se uma pessoa vai a uma casa, é porque tem algo, algo de que precisa. Os búzios são consultados, e os Orixás são os que determinam se a pessoa é adequada para a religião ou não. Você tem um problema, uma doença, algo que os médicos não conseguem curar, então você se volta para a religião. E se os Orixás disserem: "Eu vou te curar", então você deve entrar na religião.
P: A questão também se resume à crença da pessoa que está na casa religiosa, mas também da pessoa que vem. Ambos devem ter uma crença.
P: Eu vou te curar.
R: Sim, eles precisam ter fé, precisam ter certeza, porque não é encorajador fazer algo se não vier do coração e com pensamentos firmes.
P: Quando vocês abriram sua primeira casa de religião? R: A primeira e única, há 52 anos, em 1957.
P: Essa casa tem um nome como este, "Casa dos Orixás"? R: Culto Africano Yeye Vodu Nagó 29 de setembro
P: Já ouvimos muitas vezes, e repito porque é para muitas pessoas que não estão familiarizadas com o assunto, o que significa Nagó?
R: Nagó é uma Nação, porque na África existem muitas Nações. Existem os Yeye, os Nagó, os Hoió, os Ioia, e minha Tribo Africana se chama Divini, o lugar onde vivem os Reis. Hoje em dia devem existir muito poucos deles, porque na antiguidade já eram muito poucos. Então, a Tribo Yeye era muito pequena; lá eles se misturaram com os Nagó, e assim foram chamados de Yeye Vodun Nagó porque os Vodun são seres que viveram na Terra e libertaram Orixás, como Oberequeci e Zapatá. Existem muitos Vodun no Rio Grande do Sul, e a iniciação é realizada em muito poucos.
P: Na religião cristã, fala-se da hierarquia mais alta, que é Deus, assim como se fala da hierarquia mais alta na Umbanda.
R: Obatalá, filho de Óxala.
P: No sentido de Nações, existe também um senso de irmandade entre as Nações.
R: Os Yeye são uma nação que nunca gostou de se misturar com ninguém; eles sempre quiseram ser separados. A prova disso é que lá no Brasil, quando havia uma obrigação para com os Yeye, outras nações estavam presentes. Então, a obrigação feita a Odá, que é sagrada, envolve o sacrifício de uma cabra para ela, para essa divindade. A Nação Hoió quis assistir e foi até o local onde a oferenda seria feita. Eles começaram a cantar para Odá, e quando começaram a tocar os tambores, as tribos que estavam assistindo, aquelas que não estavam envolvidas, foram embora. Era curiosidade.
P: Qual foi a maior experiência que você teve dentro da sua religião?
R: O fato de minha casa ter muitas pessoas, algumas são filhas dos Orixás, outras não são pessoas que a frequentam. Há pessoas em minha casa com quem trabalho há 30 ou 40 anos; são amigas da casa, amigas da tradição. Quando precisam de algo, eu faço.
P: Mas e quanto a uma cura da qual você tenha uma grande lembrança?
R: Tenho muitas experiências. Por exemplo, tenho um filho que veio para minha casa quando tinha 7 anos. Eu me esforcei muito, e o médico não conseguia descobrir o que havia de errado com ele. Foi então que fui obrigado a colocá-lo na prática religiosa, e Ogun o salvou. Ele é um filho de Ogun. Hoje ele é bem-educado, e para mim, isso é uma grande satisfação, duplamente valiosa.
P: Especialmente porque a doença era muito grave.
R: Também tenho um filho biológico que agora tem 37 anos. Todos os meus filhos nasceram dentro da prática religiosa da minha casa, mas ele nunca fez nada relacionado à religião.
P: Você não gostou?
R: Não precisei. Naquela ocasião, eu já tinha 18 anos e surgiu um problema de saúde. Fui ao médico, mas não resolveu nada. Então, fui fazer um trabalho com búzios, e Bará respondeu: "Faça um trabalho para..."
Eu disse a ele que ia curá-lo. Joguei coisas no chão e, quando ele saiu, não tinha mais nada. Ele voltou ao médico, que perguntou: "Mas como?". Você está curado, não tem nada de errado.
P: Graças aos Orixás e à fé que ele também lhe transmitiu, ao longo dos anos, quais aspectos você considera mais importantes para a religião?
R: Para mim, em primeiro lugar, respeito e união, as crianças, as pessoas que frequentam a casa e muita responsabilidade.
P: Produzimos exclusivamente notícias positivas; somos a única agência de notícias que só transmite notícias positivas e, outro dia, recebemos a ótima notícia de que o dia 17 de abril foi declarado o Dia Mundial da Liberdade Religiosa. Para nós, foi muito importante que um dia da liberdade religiosa fosse estabelecido mundialmente.
R: É algo muito importante.
P: Porque sempre dissemos que aqui no Uruguai, em muitas ocasiões, as casas religiosas e os religiosos eram muito marginalizados; as pessoas não queriam estar perto deles e os vizinhos criavam problemas.
A: Sim, eles chamaram a polícia.
P: Era difícil para a sociedade entender que existia outra religião com outra forma de culto.
R: Meu Pai Santo Joana de Vara, quando chegou aqui em Montevidéu, não podia fazer nada, mas fez algo porque, de repente, até os policiais se tornaram seus amigos. Isso o libertou para realizar rituais, cometer assassinatos, fazer tudo.
P: Devo expressar minha profunda gratidão por sua gentileza.
R: É um prazer para mim, porque para ser um Babalawo como eu, é preciso ter muita experiência, muita prática em muitas coisas que os negros faziam nesta religião. Embora cada nação faça à sua maneira — minha nação, Yeye, cumpre as obrigações de uma forma, Yeyiá de outra, Ohió de outra ainda — para alcançar a posição que ocupo, é preciso saber tudo, tudo, assim como quando se entra na escola para estudar e ser treinado.
P: E acabou se tornando professor?
R: Porque realizo os rituais para crianças, os sacrifícios e também os ritos funerários. Quando uma pessoa religiosa falece, é preciso saber como lidar com os preparativos do funeral, e eu cuido de tudo, inclusive de casamentos. P: Não sabíamos que esse momento espiritual também era realizado dentro da religião. R: Sim, sim, tudo tem um começo e um fim.
P: Nunca vimos um casamento na religião.
R: A religião africana é uma religião muito humilde. Hoje em dia é muito ornamentada, mas o Orixá africano não gosta disso. Ele gosta de pureza, limpeza e afeto. Ele não gosta de coisas extravagantes. O africano é muito humilde; ele não gosta de luxos.
P: Eu estava dizendo que devemos agradecer muito pela sua gentileza. Infelizmente, não falo muito português, mas entendemos algumas coisas porque a ideia é que nós, como jornalistas, também entendamos melhor a religião. Se você não tem conhecimento, não tem coragem de falar. Quero também que saiba que aqui no Uruguai trabalhamos em uma comunidade chamada Paz Mundial Inter-religiosa, e a ideia é unir pessoas de diferentes religiões em torno de pontos em comum. Temos interesse em que pessoas de diferentes religiões compreendam outras religiões e outras pessoas de diferentes religiões.
R: Sim, porque existem religiões que, em vez de cuidarem da sua própria parte, dedicam-se a criticar e atacar outras religiões, e ainda por cima usam a lei.
P: Seria bom se as pessoas viessem a este lugar para aprender sobre o que fazemos aqui.
R: O importante é unir.
Temos consciência da importância que você representa na religião e estamos orgulhosos por você ter nos atendido, muito obrigado.
Publicitario Wáshington Pérez
Uruguai
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Estamos com o Museu Afrobrasileiro colocando mais uma ferramenta na mão de todas as Bacias do Estado e Brasil.
Colabore com o Museu, mande seus relatos da Bacia de Pai Pirica de Xangô.
Beto de Ogum - Diretor