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QUEM FOI MESTRE BOREL DE XANGÔ
Walter Calixto Ferreira
(1924-2011)
Mestre Borel era considerado o mais antigo “alabê”, o responsável pelos instrumentos de percussão utilizados no candomblé era um dos grandes “(*) griots”, como são chamados os homens mais velhos que preservam a cultura e a história dos povos africanos.
Mestre Borel, a ancestralidade negra em Porto Alegre,
Walter Calixto Ferreira, conhecido como Mestre Borel, nasceu em 7 de junho de 1924 na cidade de Rio Grande, 13º filho de uma família de 19 irmãos. Sua mãe era Guiomar Eulália Calixto, nascida em 1886, e seu pai Sanches Romano Ferreira, paraense. A avó materna de Borel era Magalí-Yala, nigeriana que viveu como escrava doméstica em Santa Vitória do Palmar (RS).
Seu nome, que em Iorubá significa “dia festivo”, foi modificado para Domingas Calixto por seus senhores, integrantes da família Mirapalheta Calixto. A informação sobre seu avô é que ele se chamava Santiago Corrêa. Foi com Domingas que Mestre Borel aprendeu o Iorubá, mais tarde sendo aperfeiçoado com o pesquisador e pai-de-santo José Ribeiro na cidade do Rio de Janeiro.
A família Calixto Ferreira estabeleceu-se em Porto Alegre por volta de 1925.
Sua mãe era filha de santo de Waldemar Antônio dos Santos (Tiemar do Shangô), africano Cabinda com o qual Borel teve sua iniciação com cerca de seis anos de idade. Em 1929, ingressou no Colégio Pão dos Pobres, onde permaneceu como aluno até 1933. Interessante notar que em uma de suas entrevistas, Borel mencionou o “conflito” que ocorria entre a formação católica dada na instituição lassalista e a tradição africana que vivia diariamente em sua casa.
Sanches Romano Ferreira, seu pai, trabalhou na Marinha Mercante como foguista e maquinista naval e, em 1931, ingressou na Companhia Carbonífera de Navegação, responsável pelo transporte do carvão mineral extraído das minas de Arroio dos Ratos, município então pertencente a São Jerônimo, para os portos de Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande. Foi neste ano que Borel teria ido ao seu primeiro Carnaval, uma paixão que o acompanharia ao longo dos anos. Nessa mesma época, ao que tudo indica, sua avó faleceu. As dificuldades financeiras motivaram a mudança da família para Charqueadas, também distrito de São Jerônimo, em 1933.
Dois anos depois, Borel retornou a Porto Alegre como aluno interno do Patronato Agrícola Pinheiro Machado, instalado junto à Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde permaneceu até 1939. Foi nesta época que assentou seus orixás com Mãe Andrezza Ferreira da Silva da Oxum, estabelecida na então Colônia Africana, atual bairro Rio Branco. O falecimento do pai, em 1940, motivou a saída de Borel da escola para trabalhar e auxiliar no sustento da família, ainda residente em Charqueadas.
Seu primeiro emprego foi como ajudante de sapateiro no centro de Porto Alegre. Em meados de 1942, formou-se modelista de calçados com a ajuda de do proprietário da sapataria onde trabalhava.
Em setembro do mesmo ano, casou-se com Maria Euzébia, filha de um dos funcionários do Patronato Pinheiro Machado. Mudou-se, então, com a esposa para Charqueadas, junto a sua mãe e irmãos menores. Seguindo os passos do pai, ingressou na Marinha Mercante, permanecendo em atividade até 1946.
No ano seguinte Maria Euzébia faleceu no parto, deixando duas filhas.
A vida como marinheiro e a busca por conhecimento e novas experiências levou Borel a viajar pelo Brasil e pelos países do Prata.
Em um de seus depoimentos, não por acaso, declarou: “é andando que a gente aprende”. Uma viagem com Pai João do Bará levou Borel à Bahia, mais especificamente ao terreiro de Mãe Meninha do Gantois.
Em 1960, Borel mudou-se para o Rio de Janeiro para ser zelador de santo da casa de Mãe Menininha na capital carioca e lá permaneceu até 1962. Durante este período, mais precisamente em 1961, casou-se com Leda Mello, com a qual teve cinco filhos. Após 1962, Borel continuou morando no Rio de Janeiro com a família e desenvolvendo outras atividades. Foi nesse período que trabalhou com a bailarina Mercedes Baptista, pioneira da dança afro no Brasil e teve contato mais direto com Joãozinho da Goméia.
Os anos de 1960 e 1970 foram pontuados por viagens para diferentes lugares, sendo que Borel retornou definitivamente para Porto Alegre somente em 1980, quando passou a residir no bairro Restinga.
Em 1997, preocupado com as distorções que a religião africana estava sofrendo, publicou o livro Agô-iê, vamos falar de Orixás?, compilação de diversos conhecimentos que acumulou ao longo de sua trajetória.
Mestre Borel recebeu diversos prêmios e homenagens, dentre os quais a Honra ao Mérito da Associação Satélite Prontidão (1997), o prêmio Quilombo dos Palmares (2004), concedido pela Câmara Municipal de Porto Alegre e a Comenda João Cândido Felisberto (2005), outorgada pelo Grupo Hospitalar Conceição. Sua importância como estudioso e grande conhecedor dos fundamentos do Batuque foi retratada no documentário Mestre Borel: ancestralidade negra em Porto Alegre.
Faleceu em 04 de julho de 2011, sendo reconhecido com um dos principais Babalorixás do Rio Grande do Sul.
Texto extraÍdo de: O Berço do Batuque.
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